Uma prática comum em Remuneração, visando apoiar o processo de tomada de decisão e o estabelecimento ou ajuste de políticas, é a realização de benchmarks que buscam um entendimento das práticas típicas entre competidores e outras empresas de referência.

Existem diferentes fontes de informação para diferentes propósitos e momentos (algumas mais acuradas e precisas do que outras), sendo que nem sempre as empresas estão dispostas a dividir dados sensíveis diretamente umas com as outras. É por esta razão que as consultorias normalmente atuam como intermediárias e mediadoras neste tipo de trabalho, equalizando bases de informações, realizando o quality assurance dos dados recebidos, assegurando a confidencialidade dos dados e produzindo análises a serem divididas com todas as empresas participantes.

Toda empresa deve buscar algum tipo de benchmark em algum momento, seja ele sobre remuneração, estrutura, carreira, sistemas de gestão de desempenho, benefícios, modelos de incentivos, entre outros… Mas é muito comum encontrarmos resistência das convidadas na adesão. É fato que algumas empresas sempre despertam interesse e estão na lista de possíveis participantes de muitos destes benchmarks, o que realmente pode inviabilizar sua participação em alguns dos convites que recebem… mas é preciso lembrar que esta troca faz parte da rotina da área e é fundamental para os estudos e o planejamento das ações a serem tomadas pelas empresas.

O preenchimento de planilhas de pesquisa não é exatamente a parte mais “glamurosa” do trabalho da área de Remuneração… está longe de ser uma atividade agradável e de trazer algum destaque ao executor da tarefa. Mas se você for o responsável por esta atividade, faça com a atenção e o respeito que ela merece, porque o resultado deste trabalho impactará em decisões que serão tomadas e trará consequências para a vida de outras pessoas. Digo isso porque não é raro recebermos planilhas muito mal preenchidas e com erros graves no input dos dados.

Pensando um pouco sobre a aplicabilidade deste tipo de trabalho, existem situações em que eu realmente acredito ser importante manter um acompanhamento periódico dos valores e práticas de mercado para garantir que a empresa se mantenha atrativa e competitiva. Não acredito, entretanto, que benchmarks devam ser utilizados como um padrão a ser seguido indiscriminadamente e nem que manter este tracking anual seja condição sine qua non para se manter uma política de remuneração saudável.

Além disso, antes de iniciar um projeto que envolva benchmark eu costumo alertar aos clientes que a minha recomendação para eles, ao final do trabalho, nem sempre será alinhada às práticas encontradas no mercado. Isto porque cada empresa tem sua história, sua cultura, seus objetivos estratégicos, seu plano de negócio, seu tamanho, sua margem, seu momento. E querer replicar o que encontramos no mercado pode não ser viável ou não endereçar as necessidades, as possibilidades e as mensagens que a empresa precisa transmitir. A estratégia de cada empresa é particular e o que funciona para uma pode não funcionar para outra.

Vale também lembrar que, quando se trata de pesquisas de remuneração, amostras representativas nos permitem chegar a boas conclusões sobre a população e gerar estatísticas relevantes. Mas é importante considerar que todo estudo de mercado se trata de uma inferência, uma vez que fala do todo a partir de uma parte (Primeira aula de estatística do colégio! Lembram?!). Isto sem contar todo o contexto que leva cada empresa a se utilizar de determinado patamar de remuneração… Por isso, muita calma na hora de seguir cegamente um número.

Em resumo, existem algumas mensagens que eu gostaria de deixar para reflexão:

  1. Benchmarks fazem parte dos processos da área de Remuneração. Lembre- se disso e seja generoso! Vc também vai precisar da reciprocidade dos colegas em algum momento…
  2. Preencha os dados da pesquisa com atenção! Este é um processo sensível e dados errados podem causar consequências graves.
  3. Nem sempre é necessário ter um controle anual do mercado. Olhar para dentro do negócio e perceber a sua evolução pode ser mais importante do que procurar respostas fora.
  4. Cuidado para não ficar excessivamente preocupado com o número. Estatísticas são pontos de referência. A sua análise do contexto é muito mais importante do que a matemática fria e estanque.
  5. Não vai ter resposta pronta esperando por vocês no final do arco-íris… Lembrem-se de fazer o que funciona melhor para cada cenário e para cada situação!

E de resto… tente confiar no seu feeling! Ninguém sabe mais do que funciona pra a sua empresa do que você. Nem o melhor benchmark do mundo.